Bloomberg – Jeff Carpoff tinha muito o que comemorar quando amigos e parceiros se reuniram na festa de fim de ano de sua empresa em 2018.
O ex-mecânico e sua esposa, Paulette, haviam fundado uma empresa de energia solar há cerca de 10 anos que estava indo muito bem – tão bem que poderia contar com a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, como investidora. Seus negócios, geradores de energia solar móveis, permitiam algumas extravagâncias. Possuíam mais de 90 carros, desde os clássicos Fords e Plymouths até Bentleys, pelo menos 20 propriedades, e um time de beisebol profissional em Martinez, a nordeste de São Francisco.
E então, com o ano chegando ao fim, lá estava Pitbull, o rapper de Miami, que comandava sua festa de Natal no pretensioso hotel Fairmont, segundo pessoas com conhecimento do assunto. O evento, tuitou Kyle Larson, piloto de corrida patrocinado por uma empresa de Carpoff, foi “de longe, a melhor festa de fim de ano a que já fui!!”.
Alguns dias depois, quando agentes do FBI bateram à porta, a extravagante vida dos Carpoffs desmoronou. Era uma estrutura em grande parte construída sobre uma suposta fraude – basicamente um esquema Ponzi, dizem autoridades federais – que era tão elaborado e descarado quanto seus hábitos de consumo.
A empresa dos Carpoff, a DC Solar, foi à falência e a maioria dos 100 funcionários está desempregada. Sua casa em Martinez, uma extensa propriedade de 4.200 metros quadrados, foi confiscada pela justiça; a piscina está cheia de folhas. Quando os agentes bateram à porta naquele dia no fim de dezembro, também apreenderam muitos dos carros de luxo. E levaram uma pilha de dinheiro – US$ 1,8 milhão no total – que estava escondida em um dos escritórios do casal.
Investidores sofisticados
Os Carpoffs, afirmam as autoridades, conseguiram atrair apostas para investimentos em energia solar em um esquema fraudulento avaliado em US$ 800 milhões.
Prometendo elevados lucros e créditos fiscais federais, os Carpoffs conseguiram vender a ideia para investidores sofisticados, mesmo vindo de uma empresa pouco conhecida fora da Califórnia e do mundo das corridas de carros.
A Berkshire não foi a única que mordeu a isca, tendo investido US$ 340 milhões, mas também a seguradora Progressive, que teve de devolver créditos fiscais acima de US$ 150 milhões devido principalmente aos investimentos na DC Solar. Cerca de meia dúzia de bancos regionais também financiaram a empresa, como o East West Bancorp, Valley National Bancorp e United Financial Bancorp.
Todos investiram em fundos criados pela DC Solar, que renderam significativos créditos fiscais e possíveis ganhos. A empresa deveria usar o dinheiro para construir geradores móveis, que fornecem energia em eventos esportivos e outros estabelecimentos ao ar livre.
Mas as evidências sugerem que a DC Solar “não estava envolvida em quase nenhum negócio legítimo”, disse o governo. A empresa construiu e alugou apenas uma fração das mais de 12 mil unidades móveis que, segundo a DC Solar, estavam em uso, segundo o FBI. A empresa supostamente usou grande parte do dinheiro de novos investidores para pagar os antigos – e para financiar os gastos do casal.
Carpoff não respondeu a pedidos de comentários.
“A DC Solar Solutions era um negócio de energia solar inovador, substancial e confiável. A empresa fabricou milhares de geradores solares móveis, que foram examinados e entregues fisicamente”, disse o advogado de Carpoff, Malcolm Segal, em comunicado. “Qualquer alegação de que houve um esquema Ponzi ou qualquer coisa ilegal envolvendo a operação do negócio é sem mérito.”