Na última segunda-feira, os investidores de criptomoedas passaram por um verdadeiro teste de resiliência ao ver o bitcoin (BTC) sendo negociado abaixo da marca de US$50.000.
Neste artigo, detalhei o que ocasionou o maior declínio do mercado cripto desde janeiro de 2022, mas, além disso, sei que você deseja saber o que podemos esperar para os próximos dias. Para isso, conversei com analistas do mercado cripto brasileiro que compartilharam suas visões sobre o atual momento da indústria blockchain.
Se o cenário piorar, o bitcoin pode chegar a US$38.000
A analista e trader Iara Tamires reforçou que a correção foi causada pela situação macroeconômica e geopolítica.
“Na semana passada, vimos o balanço de resultados de várias empresas dos Estados Unidos que veio pior do que o esperado. E na sexta-feira, tivemos o Payroll, que mostrou a criação de menos vagas de emprego do que os analistas haviam projetado e um aumento na taxa de desemprego, o que gerou medo de recessão nos EUA”.
Além disso, Iara destacou a alta de juros no Japão como um fator que contribuiu para essa queda. Conforme observado pela criadora da “Mentoria Exclusiva Renda Todo Dia”, o receio entre os investidores se intensificou, pois o país asiático já teve épocas de juros negativos e zerados.
“Países que antes tomavam empréstimos na moeda japonesa e emprestavam para outros países começaram a retirar liquidez desses outros países para fechar a conta no mercado japonês. Isso fez com que a moeda japonesa se estabilizasse e subisse no curtíssimo prazo, mas depois tudo colapsou. Como as bolsas asiáticas abrem antes das bolsas americanas, elas abriram e deram circuit break”.
Iara relembrou que Taiwan nunca teve uma queda tão grande desde 1967. Com isso, não seria possível que as criptomoedas ficassem ilesas.
“Mais de US$1 bilhão foram liquidados de apostadores de alta nas últimas 24 horas… e ainda não podemos afirmar que a queda acabou, pois a situação da guerra entre Irã e Israel está tensa”.
Segundo Iara, as ações de empresas bélicas foram as únicas a subirem na última segunda-feira, como resultado desse temor de mercado.
“Podemos ver mais correção por medo, mas isso não tem nada a ver com as criptomoedas… Estamos vendo ativos de risco no mundo inteiro caindo, e as criptomoedas ainda não caíram tanto”.
Embora o bitcoin tenha corrigido 20%, Iara destaca que algumas ações tradicionais chegaram a cair 20%, 30% e até 40%, marcando a pior queda das bolsas desde a época do COVID.
“Então, podemos ver o bitcoin buscar liquidez em US$47.000, US$42.000 e, se o cenário piorar, ele pode ir para US$38.000. Na minha opinião, o BTC não cairá abaixo de US$38.000, mas já comecei a montar posições. Fiz uma boa compra em US$53.000… e tenho ordens posicionadas nos patamares que mencionei”.
Iara acredita que a recuperação das criptomoedas virá em V, assim como vimos na pandemia, onde as criptos foram os ativos que se recuperaram mais rápido.
Do lado positivo, a trader destaca os ETFs spot de Bitcoin da BlackRock, que na semana passada não tiveram um dia de saída, a previsão de Michael Saylor, que no pior cenário vê o BTC a US$3 milhões em 2045, e a gestora VanEck, que acredita que, daqui a alguns anos, veremos a criptomoeda primária com metade do market cap do ouro.
“Eu vejo essa queda como uma oportunidade de comprar ativos muito bons a preços irrisórios, mas é necessário ter coerência para não ficar sem caixa, pois pode haver mais quedas”.
Tome cuidado com o fechamento semanal do bitcoin
Alan dos Santos, analista técnico do PhiCube, vê a guerra entre Irã e Israel como um dos grandes causadores da queda dos mercados. Inclusive, ele relembra abril de 2024, quando o país árabe atacou o país do Oriente Médio e vimos um crash no preço dos ativos.
Falando sobre gráficos, Alan aponta que o bitcoin perdeu uma região importante de suporte, que é a marca de US$56.000.
“Estou observando pelo gráfico diário que há um grande pavio que geralmente indica uma certa absorção das vendas. Ou seja, os investidores estão tentando defender a região de US$50.000, US$49.000, que é a mínima que o BTC deixou, mas eu ficaria atento a como ele fechará o semanal”.
Alan destaca que, se o bitcoin fechar abaixo de US$56.000, US$58.000, é preciso tomar cuidado, pois a movimentação atual pode ser um movimento para continuar corrigindo.
“Eu não acho que, por exemplo, o bitcoin vai sair dos US$50.000 para voltar a testar os topos. Eu entendo que será um reteste dessa última pernada de queda para depois, pelo menos, testar fundo… se ele perder os US$49.000, aí vejo que a tendência de alta que tínhamos acaba revertendo”.
O analista observou que, desde que a criptomoeda testou os US$15.000 no final de 2022, agora é a primeira vez que ela pode ter um fechamento semanal abaixo de fundos anteriores.
“Vou acompanhar para ver se não vai acontecer o mesmo que em maio, quando o bitcoin perdeu o semanal, mas voltou rápido. Estou acreditando que dessa vez ele perde e vai embora, pois vejo o BTC tendendo a reverter essa movimentação de alta, abrindo um espaço de queda mais considerável.”
Queda pode continuar, mas ser uma boa oportunidade para DCA
Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da Ripio, também não mostra otimismo em relação ao BTC no curto prazo.
“Apesar de toda a queda dos últimos dias, devemos considerar a possibilidade de o preço corrigir ainda mais, mas isso não significa que o preço atual (US$49.000) não esteja interessante para fazer o DCA (aportes fracionados) pensando no longo prazo”.
Ana aponta que, caso ocorra uma queda ainda mais acentuada, o bitcoin poderá buscar a próxima região de liquidez nos US$44.000 e US$41.000.
“Para que ocorra a reversão da tendência de baixa, ou pelo menos a estabilização no preço, é preciso que entre bastante fluxo comprador absorvendo a queda”.
A especialista aponta que as resistências de curto e médio prazo estão nas áreas de valor de US$55.230 e US$63.600.