Sem dúvida, o último final de semana foi um dos mais tensos para os investidores do mercado de criptomoedas. Afinal, em apenas algumas horas, US$142 milhões foram liquidados do meio cripto, como resultado da queda brusca do Bitcoin (BTC), que caiu abaixo dos US$51.000 nesta manhã.
No entanto, as criptomoedas não foram as únicas a serem negociadas no vermelho. O mercado de ações no Japão, por exemplo, recuou mais de 6%, registrando a maior queda em um dia desde a pandemia. Enquanto isso, na última sexta-feira (02), na Europa, o FTSE 100 de Londres caiu 0,4%. Nos Estados Unidos, os futuros indicavam outra abertura fraca para Wall Street, com o S&P 500 caindo 0,9%.
Para que você possa entender essa queda, vamos falar sobre o que está acontecendo dentro e fora da indústria cripto.
Federal Reserve
Já faz um tempo que o Federal Reserve tem sido o terror dos investidores ao redor do mundo e, na última semana, Jerome Powell, presidente do Fed, intensificou o pânico.
A euforia inicial com a sinalização de corte nas taxas de juros pelo Banco Central dos EUA deu lugar a um clima de apreensão, enquanto a desaceleração no mercado de trabalho reacendeu o medo de uma recessão, lembrando os mais experientes da crise de 2008.
Embora Powell inicialmente tenha reforçado a expectativa dos mercados de um corte na taxa de juros, o que é bom, pois significa crédito mais barato para as empresas, o relatório de empregos decepcionante da última sexta-feira acendeu o sinal de alerta.
A taxa de desemprego saltou para 4,3%, um número que, embora possa ser considerado baixo, preocupa os investidores.
Nos Estados Unidos, alguns setores já sentem o impacto da desaceleração, com empresas de varejo e restaurantes relatando queda nas vendas.
É válido dizer que bancos centrais ao redor do mundo, como o Banco da Inglaterra, o Banco Central Europeu e o Banco do Canadá, reduziram as taxas de juros, o que aumenta a pressão sobre o presidente do Fed para que ele siga esse exemplo.
Mas mesmo que o Federal Reserve diminua as taxas em setembro, como os analistas de mercado esperam, economistas como Jeffrey Rosenberg, da BlackRock, e Peter Schiff acreditam que esse passo pode ser ineficaz e alertam para os riscos de uma grande recessão.
Fuga de investidores institucionais
Com esse cenário de incerteza econômica e a falta de clareza sobre as políticas do Fed, o que antes era a alegria dos investidores criptos, se tornou seu pesadelo, e estou falando dos ETFs spot de Bitcoin.
Na sexta-feira, esses fundos tiveram saídas de US$240 milhões, o maior volume em três meses, contribuindo ainda mais para a queda do BTC.
Mas não pense você que o Ethereum saiu ileso na briga com os investidores institucionais. Os ETFs spot da principal altcoin do mercado tiveram saídas de US$54,3 milhões.
Jump Crypto
A Jump Crypto, braço de criptomoedas da Jump Trading, tem sua parcela de “culpa” nessa correção.
Segundo dados on-chain, os endereços da empresa tiveram entradas de US$300 milhões desde 3 de agosto, e as saídas da carteira da firma foram de US$80 milhões, valores que foram enviados para Coinbase, Gate.io e Binance.
A Jump Trading detém US$552 milhões em criptomoedas na rede Ethereum, sendo US$520 milhões em stablecoins. Há indícios de que a empresa também possua uma quantidade expressiva de Solana, mas a falta de transparência das ferramentas de análise dificulta a confirmação.
Relembrando, a Jump Crypto possui um histórico de controvérsias no mercado de criptomoedas, tendo sido alvo de investigações da CFTC e da SEC, além da renúncia de seu CEO em junho, após uma investigação relacionada à Terra (LUNA).
Genesis
Outra contribuinte da queda do mercado de criptomoedas é a Genesis Global Capital, empresa de empréstimos cripto que entrou em recuperação judicial.
A empresa iniciou o pagamento aos credores, movimentando US$4 bilhões em criptomoedas e moedas fiduciárias. Bitcoin, Ethereum e Solana foram os principais ativos utilizados para quitar as dívidas.
A movimentação de US$1,6 bilhão em BTC e ETH pela Genesis na última sexta-feira ajudou a desencadear uma onda de liquidações no meio cripto.
Uma curiosidade aleatória é que entre os beneficiados pelo pagamento da empresa falida está o bilionário Mark Cuban, que recebeu US$19,9 milhões em Ethereum.
Conclusão
Com muitos ventos contrários, é natural ter receio do que está por vir para o bitcoin e as altcoins. No entanto, embora nada seja tão ruim que não possa piorar, esse mercado já nos deu sustos como esse durante a pandemia de 2020, e não foi nada que não conseguimos superar, vendo o BTC acima de US$70.000 algum tempo depois. Sendo assim, deixo a reflexão do analista cripto Michaël van de Poppe para você:
“Este é um dia em que muitos pensarão em desistir. Essa não é a resposta. A questão é que você deve permanecer no jogo, pois estes dias podem ser o ponto mais baixo. Permanecer no jogo é vencer o jogo real. Continue forte”.