El Salvador se tornou o primeiro país do mundo a se integrar de maneira profunda ao Bitcoin. Desde a aprovação da Lei Bitcoin em 7 de setembro, Nayib Bukele, chefe do executivo, vem anunciando uma série de medidas para se integrar à cripto-economia. O anúncio mais recente, e também o mais ambicioso, foi a construção da Bitcoin City, que será financiada através de títulos de dívida atrelados ao Bitcoin.
O anúncio da criação da cidade foi feito durante a Labitconf, uma das maiores conferências sobre a criptomoeda do mundo, ocorrida no país latino-americano. Em uma apresentação, Bukele mostrou o projeto de uma cidade inteira focada na criptomoeda, alimentada pela energia geotérmica de vulcões e que terá como uma das principais fontes de renda a mineração da criptomoeda.
Além disso, a cidade será livre de impostos de renda, patrimônio ou propriedade, e contará apenas com um Iva (impostos sobre produtos e serviços) de 10%, tornando-a também um paraíso fiscal atraente para empresas e indivíduos.
Os custos deste ambicioso plano serão financiados através da emissão de Bitcoin Bonds, títulos de dívida soberana atrelados à criptomoeda.
Como isso vai funcionar?
Serão inicialmente emitidos US$ 1 bilhão em títulos tokenizados através da rede Liquid, uma solução de segunda camada da rede Bitcoin desenvolvida pela Blockstream, uma das principais empresas de criptografia do mundo, liderada pelo pai da computação Adam Back (um dos suspeitos de ter criado o próprio Bitcoin).
Do total arrecadado, US$ 500 milhões serão utilizados para a compra direta de bitcoin para os cofres do governo. A outra metade será usada para prover infraestrutura elétrica para a criação da cidade, que deve se tornar um polo mundial para a mineração de Bitcoin.
Os títulos pagarão aos detentores 6,5% ao ano. Além disso, os lucros provenientes com a compra de bitcoin serão divididos entre os investidores, ao passo que se houver queda no preço da criptomoeda, não haverá prejuízo para quem comprou os títulos. Dessa maneira, essa será uma forma altamente segura de grandes players institucionais de se expor à criptomoeda.
Um mercado trilionário
As dívidas governamentais do mundo totalizam hoje mais de US$ 60 trilhões. Boa parte delas já estão muito acima do limite do razoável, e um eventual calote em massa ou impressão de dinheiro para arcar com os custos dessas dívidas poderia provocar uma hecatombe econômica nunca vista na história moderna. Talvez algo semelhante à queda de Roma ou de Babilônia.
A criação desse instrumento financeiro apoiado pelo Bitcoin é o começo de uma mudança nas bases da economia mundial, que hoje é apoiada pelas moedas fiduciárias.
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