Ciro Gomes, famoso político brasileiro e autoridade em política monetária, sendo um dos responsáveis por elaborar o Plano Real, que tirou o Brasil da hiperinflação em 1994, deu suas impressões sobre o Bitcoin durante um episódio do Flow Podcast.
A discussão se iniciou em torno do papel do dólar na política monetária internacional, onde Ciro destaca a falta de qualquer lastro para a emissão da moeda americana, que se tornou o meio de troca e principal ativo de reserva de valor mundial.
“Eles pegam um papel, pintam de verde, e o mundo inteiro aceita aquilo como termo de troca. […] Mas é preciso, porque é a única moeda de curso internacional. Mas é mais, é reserva de valor.”
De fato, não somente o dólar, mas todas as demais moedas fiduciárias, como real, euro ou peso argentino, não possuem qualquer tipo de lastro para sua emissão, sendo essa confiada a políticos, banqueiros e burocratas, que definem não somente a emissão da moeda, bem como o preço do dinheiro no tempo, a chamada taxa de juros.
“Ela [o dólar] é reserva de valor, o único do mundo, existia no passado o ouro, e eles quando ficaram muito poderosos romperam o padrão ouro, e agora eles estão criando uma nova teoria, a nova teoria monetária, que basicamente diz que emitir dinheiro não causa efeito inflacionário. “
Foi definido no acordo de Bretton Woods, em 1944 por 44 nações aliadas, que o mundo adotaria o padrão dólar para o comércio internacional, isso pois a moeda americana era a única que mantinha rigidamente o padrão ouro, sendo possível converter sempre que necessário US$ 35 por 1 Oz de ouro.
Em 1971, os Estados Unidos romperam unilateralmente o acordo, fazendo com que o padrão monetário mundial fosse baseado literalmente em ‘papel pintado’, como dito pelo próprio Ciro.
Certamente, o dólar se tornou uma das grandes forças financeiras dos Estados Unidos, e Ciro destaca que a perda dessa hegemonia poderia ser o estopim para conflitos geopolíticos envolvendo a nação americana.
Mas e o Bitcoin?
Monark, ao escutar as falas de Ciro, afirma: “o Bitcoin pode ser uma ferramenta nesse sentido.”
De fato, uma moeda descentralizada, operando em uma rede monetária aberta, pode ser a solução definitiva para diversos problemas geopolíticos envolvendo a falta de lastro das moedas fiduciárias, a centralização do sistema interbancário Swift, o alto custos para realizar remessas internacionais, o alto número de desbancarizados mundo afora, as crises inflacionárias, além de outras questões.
“Olha, eu não sei se eu sou conservador demais, e eu admiro essa tentativa, mas uma moeda sem lastro e sem uma autoridade pública por trás dela, não sei se um dia desses não vai dar problema.” – Afirmou Ciro.
Perguntar qual é o lastro do Bitcoin é o mesmo que perguntar qual é o lastro do ouro. Afinal, nenhum deles é pareado com nenhum outro ativo, isso se levarmos em consideração a definição original de lastro.
O que garante a escassez do ouro é sua raridade no universo, ou pelo menos em nosso planeta, e a dificuldade de sintetizar o metal precioso em laboratório. Por sua vez, o que garante a escassez do Bitcoin é a criptografia e a matemática, um porto muito mais seguro do que a necessidade de confiança em uma ‘autoridade pública’.
“El Salvador adotou.” – Disse Monark.
“Está avançando para um negócio impressionante, foi muito mais além. Eu já dizia ‘isso não vai dar certo, tal’. Mordi a língua. Uma moeda privada, de curso internacional razoável, reserva de valor razoável.”
Após isso, foi discutida a influência de agentes externos sobre o preço da criptomoeda, sugerindo manipulação por parte do bilionário Elon Musk.
O Bitcoin é um ativo de apenas 12 anos, e ainda assim já alcançou cerca de 10% do marketcap do ouro, um ativo financeiro que está com a humanidade há mais de 5 mil anos. Se a criptomoeda se tornará algum dia a principal reserva de valor da humanidade, este é um caminho que ela precisa trilhar, se tornando cada vez mais resiliente.
Segundo estimativas do índice de volatilidade, o BTC deve se tornar tão estável quanto as moedas fiduciárias a partir de 2028, quando sua capitalização de mercado deve estar próxima dos US$100 trilhões, segundo o famoso modelo Stock-to-Flow.
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