No último sábado (25), o deputado federal e repórter Celso Russomanno disse no programa Cidade Alerta, da TV Record, que quem ganha dinheiro com Bitcoin (BTC) é golpista.
Durante o programa, Russomanno falou sobre o suposto golpe aplicado pela Genbit, uma das empresas acusadas de pirâmide com BTC no Brasil, e argumenta que o Bitcoin “não é palpável”, diferente do ouro, dinheiro físico ou um imóvel. Em seguida, afirma:
“Tem gente ganhando dinheiro com isso? Tem. Sabe quem tá ganhando dinheiro com isso? Quem tá dando golpe. Pode ter certeza”, disse o deputado republicano.
A declaração, no entanto, não parou por aí, e Russomanno acrescentou:
“Eu não conheço um – uma pessoa que investiu em Bitcoin que ganhou alguma coisa”, disse. “Você investe e vê na telinha do computador que tá dando lucro. Que maravilha, quando você tenta resgatar o dinheiro, eles bloqueiam você ou desaparecem com os seus BTCs.”
A ignorância prejudica a população
A fala discriminatória contra a principal criptomoeda do mercado, no entanto, sugere ignorância sobre o assunto por parte do jornalista especializado em defesa do consumidor.
De fato, golpes financeiros com Bitcoin e outras criptomoedas estão em alta no Brasil e no restante do mundo, justamente pela falta de informação da população sobre o tema, o que facilita a ação de pessoas mal-intencionadas.
Aqui no Criptonizando, por exemplo, leitores regularmente encontram novas matérias sobre empresas acusadas de pirâmides financeiras e outros golpes do tipo que prejudicam investidores por todo canto com promessas de altos lucros com Bitcoin, como Unick Forex, Midas Trend, BWA, DD Corporation e a própria Genbit citada na reportagem.
Contudo, golpes financeiros já existiam – e com extremo êxito – muito antes do advento das criptomoedas, que surgiram com o propósito de inovar o modelo de dinheiro como conhecemos.
O Bitcoin, sobretudo, primeiro projeto do setor que deu certo, surgiu como uma alternativa descentralizada para eliminar os intermediários na troca de dinheiro entre duas pessoas, com transações mais rápidas e baratas, além da transparência oferecida pela tecnologia blockchain.
A marginalização do Bitcoin e outras criptomoedas não beneficia ninguém, nem mesmo os que se recusam a aceitar a revolução digital e os benefícios que essa mudança traz consigo.
O futuro é digital
No Brasil, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconhece a importância de um futuro digital – em especial, no sistema financeiro.
Campos Neto chegou a dizer em fevereiro deste ano que o lançamento do PIX, sistema de pagamentos instantâneos do Brasil, surgiu das necessidades criadas pelo Bitcoin e outras criptomoedas por “um instrumento de pagamentos que seja barato, rápido, transparente e seguro”, declarou.
Em meio à pandemia que afeta a economia mundial, fundos de criptomoedas regulamentados no Brasil registram alta, superando o Ibovespa, principal indicador de desempenho das ações negociadas na B3. No primeiro semestre, foram registradas altas de até 85%.
Embora o Bitcoin seja, sim, muitas vezes usado como uma ferramenta para promover ações fraudulentas, é ignorante pensar que a criptomoeda em si é um golpe.
Por fim, disseminar tal informação errônea em rede nacional só prejudica a população, que passa a enxergar a moeda como um vilão, ficando alheia às diversas possibilidades e oportunidades existentes devido à tecnologia.
Além disso, despertos para os benefícios das criptomoedas, Bancos Centrais de diversos países, como China, Tailândia e França já estão em fase de testes de moedas digitais nacionais apoiadas pelo governo, enquanto outros, como Japão, EUA e até o Brasil já falam sobre a criação de CBDCs, como são chamadas, para substituir o dinheiro físico.
Em nota enviada ao Criptonizando, a Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) lamenta “a total falta de conhecimento de Celso Russomanno sobre o bitcoin e o funcionamento do mercado no Brasil”, classificando a atitude do deputado como “inadmissível” e um “desserviço”, acrescentando que:
“A ABCripto representa as principais empresas do setor, que atendem rígidos procedimentos de segurança e padrões operacionais de acordo com a Instrução Normativa n. 1888 da Receita Federal. Os agentes criminosos que se utilizaram de criptoativos têm tido cada vez mais dificuldades para ocultar as transações, graças aos avanços no monitoramento.
Russomanno, portanto, promove um desserviço quando diz todos aqueles absurdos durante o programa – e desconsidera por completo os milhões de pessoas que operam legalmente criptoativos.
Seria natural supor que Russomanno tivesse dúvidas acerca do tema e é justamente por isso que estamos aqui. Seria mais simples, ao invés de reduzir o bitcoin a um grupo criminoso, buscar entender o funcionamento para oferecer as informações corretas à audiência do programa.
Associação Brasileira de Criptoeconomia – ABCripto”